O dia amanheceu, levanto da cama, coloco a água do café no fogo e sigo para o meu ritual, saudando Kitembo pelo dia de hoje. Encho meus pulmões de ar, inspirando a luta. Volto ao fogão para preparar meu café, percebo o cheiro familiar de casa. Observo a fumaça subindo, misturando-se ao reflexo do sol que adentra pela janela da cozinha. Encho a xícara de café, volto a contemplar o dia lá fora e retorno à chácara vazia, começando a me preparar para o dia.
Lembro-me de que hoje é segunda-feira e preciso preparar meu balaio de ebó. Hoje, meu ebó é para nzila e será entregue na encruzilhada de terra. Levo um ebó completo para o senhor que me orienta nas palavras, como um ponto riscado, em um ponto firmado. Arrumo o padê, cachaça, dendê, bem divididos. Divido o prato em três partes, acrescento uma garrafa de marafo, sete charutos, uma farofa de miúdos e bastante pimenta para afinar a língua. Forro meu balaio com pano vermelho e preto, perfumando-o. Na capanguinha, coloco lasca de fumo e moedas para pedir licença à mata. Agora, a oferenda está pronta. Saio com o balaio na cabeça, carregado de esperança em cada prato. Avisto a gameleira, ajoelho-me aos seus pés, bato palmas nove vezes, abro a garrafa com os dentes, tomo três goles, sopro para o alto. O cheiro da cachaça embriaga minha fé. Desarrumo o balaio devagar, sem pressa, virando toda a cachaça aos pés da Gameleira, forrando os tecidos. Pego uma pama solta do coqueiro e sirvo meu ebó. Bato palmas novamente num compasso de um, dois, três. Um, dois, três, quanto, cinco, seis, sete. Pego o balaio, o que ficou vazio, levanto-me e vou distanciando-me sem virar as costas até ter a certeza de estar segura. Assim, faço meu caminhar, de quem entrou e saiu da mata, eu e meu balaio de ebó. Makota Kidoiale ✍🏾
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Janeiro 2024
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